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  • agosto 30, 2017

Tropas do Brasil fazem última patrulha em Cité Soleil, maior e mais violenta favela do Haiti

 Os militares brasileiros fizeram na manhã desta quarta-feira (30) a última patrulha em Cité Soleil, a maior comunidade de Porto Príncipe, a capital do Haiti, considerada até 2008 pela ONU como a mais violenta do país. Cité Soleil, com cerca de 300 mil moradores, foi pacificada por uma série de operações internacionais, comandadas pelo Brasil, entre dezembro de 2006 e maio de 2007.

Em junho deste ano, o Brasil entregou a sua base na favela para a Polícia Nacional Haitiana (PNH), que assumiu o controle da segurança. Isso porque o Brasil finaliza as ações na missão de paz nesta quinta-feira, após a ONU ter decidido encerrar a operação internacional.

Nas ruas de Cité Soleil, os moradores afirmaram à reportagem do G1 que a única coisa que mudou nos últimos 13 anos em que as tropas brasileiras estiveram na favela foi a segurança. Nas ruas, há enormes quantidades de lixo amontoadas, que são reviradas por porcos e aves, à procura de comida, e por crianças, que correm nuas em meio à sujeira.

O diretor da escola Soleil der Garten, Jeune Marcelon, de 50 anos, diz que o governo suspendeu o apoio a um programa educacional na favela há 10 meses e agora são os parentes das 150 crianças que lá estudam que pagam cerca de 2 mil gourdes por mês (cerca de US$ 34), que servem para arcar com os custos de professores.

“Na época de 2004 a 2006, 2007, aqui tinha muito tiroteio, todos os dias tinham corpos e tiros em Cité Soleil. Agora a segurança melhorou, mas aqui ainda falta tudo, há doenças no meio do lixo com as crianças e o único hospital é longe e superlotado. Nada mudou aqui nos últimos anos nisso”, disse Marcelon.

O diretor soube ouvindo rádio que a missão de paz da ONU no Haiti (Minustah) está deixando o país. “Eu não sei o que vai acontecer agora conosco. Vamos esperar, porque a Polícia Haitiana não patrulha as ruas da favela, só ficam na base deles”, afirmou.

 

“Eu não sei o que vai acontecer agora conosco. Vamos esperar, porque a Polícia Haitiana não patrulha as ruas da favela, só ficam na base deles”, Jeune Marcelon, diretor de escola em Cité Soleil

A reportagem do G1 viu pelo menos três bases da PNH em Cité Soleil, uma delas na entrada, mas, ao contrário das regiões nobres da capital haitiana, como Pétion Ville e Delmas, não encontrou policiais nos becos da comunidade.

s moradores relatam que até o momento não há um grupo armado comandando a região, apesar de reportes da inteligência relatarem tiroteios em julho entre a polícia haitiana e suspeitos. Contudo, os habitantes de Cité Soleil acreditam que, após a saída das tropas internacionais, “alguma coisa pode acontecer”, segundo o desempregado Ravil Loubert, que mora em uma região portuária da comunidade.

“Eu sei disso, que algo pode acontecer, porque moro aqui. Muitas coisas melhoraram, mas a PNH não caminha nos becos, não vigia aqui, só passam de carro”, afirmou ele, que sonha em viajar para o Brasil em novembro para encontrar o irmão, que migrou pra a Bahia após o terremoto de 2010, que deixou mais de 300 mil mortos.

 

“Sei que algo pode acontecer, porque moro aqui. Muitas coisas melhoraram, mas a PNH não caminha nos becos, não vigia aqui, só passam de carro”, Ravil Loubert, morador de Cité Soleil

 

“As coisas aqui são muito caras. Eu vendo comida (uma sopa) na rua para sustentar 5 filhos. Para mim, nada mudou”, diz a cozinheira Lanka Legran, de 45 anos, que disse que não sabia que a ONU estava deixando o país.

Já para o desempregado Jean Bernard, de 50 anos, as tropas do Brasil vão fazer falta em Cité Soleil. “Eles sempre passavam aqui cumprimentando, ajudavam, perguntavam as coisas. Eu acho que a violência agora vai retornar como era antes e os bandidos vão voltar”, acredita ele.

 

“Eles sempre passavam aqui cumprimentando, ajudavam, perguntavam as coisas. Eu acho que a violência agora vai retornar como era antes e os bandidos vão voltar”, Jean Bernard, morador de Cité Soleil

 

A última patrulha brasileira em Cité Soleil ocorreu em carros e motos e durou cerca de duas horas, contando com cerca de 35 militares. Para o comandante do atual batalhão brasileiro no Haiti, coronel Alexandre Cantanhede, “o sentimento é de dever cumprido”.

 

“Sentimento é de dever cumprido”, coronel Alexandre Cantanhede, comandante do atual batalhão brasileiro no Haiti

“Nós fizemos nossa parte, ajudamos a proporcionar um ambiente seguro e estável ao Haiti. Encerramos agora nossas atividades, o governo e a polícia irão atuar para manter o controle”, afirmou o oficial, que é comandante do 26º batalhao do Brasil na missão de paz, atualmente com cerca de 850 homens.

Apesar da grande quantidade de lixo e pobreza nas ruas, a reportagem do G1 percebeu que este problema diminui em relação a 2013 em algumas partes da favela. Em outras áreas porém, valas e terrenos baldios amontoam toneladas de sujeira comparadas à situação de 2007, quando o Brasil tinha acabado de obter o controle da favela.

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