- abril 27, 2023
Tontura e vertigem: a importância de identificar e diferenciar os sintomas
No mês em que ocorre o Dia Nacional da Tontura – 22 de Abril, o HRMS (Hospital Regional de Mato Grosso do Sul) traz um importante alerta sobre o diagnóstico correto e importância de diferenciar vertigem e tontura, termo popularmente usado por pacientes e escolhido para marcar a data.
Do ponto de vista do paciente, os sintomas são considerados comuns e semelhantes nos dois casos. Apesar da inexistência de dados precisos, estudos apontam que a tontura, por exemplo, está entre as principais queixas na medicina, atingido uma prevalência de até 35% da população geral em algum momento da vida.
Identificar e diferenciar tontura de vertigem é necessário logo no primeiro atendimento ao paciente que apresenta os sintomas, conforme destaca a Neurologista e Coordenadora do Ambulatório de Distúrbios Vestibulares e do Equilíbrio do HRMS, doutora Aline M. Kozoroski Kanashiro, que ministrou, no último sábado (22), o simpósio “Tontura: Conhecimento ao Alcance de Todos”, direcionado a médicos e residentes de diversas especialidades que atuam no HRMS.
Para entender melhor o assunto, confira a entrevista com a doutora Aline, que atua no único Ambulatório de Vertigem de Mato Grosso do Sul, no HRMS.
Qual a diferença de tontura e de vertigem?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – Do ponto de vista semântico, os termos tontura e vertigem são palavras sinônimas, no entanto, para os médicos, e principalmente os neurologistas, tontura e vertigem se referem a sintomas que refletem o comprometimento de diferentes sistemas e devem ser sempre diferenciados.
Tontura é um sintoma referido pelo paciente de várias formas, como por exemplo, uma sensação de mal-estar, de fraqueza, sensação de queda (mas sem realmente cair), embaçamento visual, escurecimento visual, sensação de desmaio, de cabeça vazia, etc.
A vertigem é a percepção irreal de que as coisas estão rodando ao seu redor ou que o seu corpo está rodando (como se estivesse em um redemoinho), ou balançando (como se estivesse em um barco, ou andando em cima de um colchão).
Qual a importância de diferenciar os dois sintomas?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – A importância na diferenciação da tontura e vertigem é que esses sintomas são manifestações clínicas de doenças completamente diferentes, que necessitam uma abordagem diagnóstica e terapêutica direcionada para o verdadeiro problema de saúde do paciente.
Por exemplo, a tontura pode ser o sintoma de uma doença cardíaca, pulmonar, endocrinológica, desidratação, intoxicação, distúrbios metabólicos, infecções e distúrbios do sono. Além disso, a tontura é um sintoma muito frequente nas doenças psiquiátricas como depressão, ansiedade e outras.
A vertigem é um sintoma que reflete o comprometimento do labirinto ou das suas conexões no cérebro. Várias doenças do labirinto e do cérebro podem causar vertigem, cada uma dessas doenças tem características específicas e o diagnóstico e tratamento correto são possíveis, muitas vezes, somente com as informações do paciente e com o exame físico neurológico específico para avaliar o labirinto e suas conexões. Poucas vezes é necessário a realização de exames complementares, como a tomografia e a ressonância.
O neurologista e o otorrinolaringologista são os especialistas preparados para fazer o diagnóstico e tratamento das doenças que causam vertigem, ou seja, as doenças que comprometem o labirinto e suas conexões dentro do cérebro.
Por falar em labirinto, lembra-se da labirintite? Pois então, ela é uma doença rara, que acontece em cerca de 0,5% de todos os pacientes que tem tontura ou vertigem. E não existe crises de labirintite, porque nós só podemos ter, no máximo, 2 episódios de labirintite em toda a vida, porque só temos 2 labirintos. Portanto, o médico que dá um diagnóstico de labirintite, ele tem uma chance de 99,5% de ERRAR! O grande problema do uso indiscriminado e ERRADO do termo labirintite, tanto pelos médicos, quanto pela população, é que isso resulta no uso incorreto de medicações e, consequentemente, em muitos efeitos colaterais, alguns deles muito graves.
Quais doenças são mais comuns os sintomas de tontura e vertigem?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – A tontura e a vertigem não causam doenças. Ao contrário, elas são sintomas de diferentes doenças. São exemplos de doenças que causam tontura: doenças cardíacas, diabetes Mellitus descompensado com hiper ou hipoglicemia, pressão alta ou pressão baixa, beber pouca água, desidratação, qualquer tipo de infecção, estresse, ansiedade, depressão, síndrome do pânico, distúrbios do sono e outras. Os principais exemplos de vertigem são, em ordem de frequência: VPPB (vertigem postural paroxística benigna), doença de ménière, migrânea vestibular, AVC (acidente vascular cerebral), neurite vestibular e outras. A labirintite aparece em último lugar, juntamente com as outras doenças raras do labirinto.
Existe uma faixa de idade quando os sintomas são mais frequentes?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – Tanto a tontura, como a vertigem, podem aparecer em pessoas de qualquer idade, mas dependendo da doença, podem aparecer com mais frequência em adultos e idosos.
Recentemente, o HRMS ofereceu um simpósio destinado aos médicos e residentes de todas as especialidades com foco na diferenciação de tontura e vertigem. Qual a importância da conscientização dos profissionais de saúde para o diagnóstico correto?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – O principal para um médico que não é neurologista ou otorrino, é saber diferenciar tontura de vertigem. Uma boa história clínica e exame clínico são capazes de direcionar o diagnóstico e, a partir daí, caso o médico não saiba realizar o tratamento adequado, ele pode encaminhar o paciente ao serviço especializado.
Em relação aos neurologistas e otorrinos, eles já são preparados durante a sua formação para atender pacientes com vertigem. Com excessão do AVC e das vertigens de causa central que são tratadas apenas pelo neurologista.
Qual o tratamento adequado para o sintoma de tontura e vertigem?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – O tratamento vai depender do diagnóstico da doença. Por exemplo, a VPPB, que é a doença mais frequente nos ambulatórios de Distúrbios Vestibulares, não necessita de tratamento com nenhuma medicação. Após o diagnóstico, são realizadas manobras para reposicionar os cristais de cálcio que estão deslocados dentro do labirinto. O paciente pode sair da consulta já curado, sem medicações, sem necessidade de realizar nenhum exame ou qualquer outra terapia. Isso é muito gratificante!
Existe alguma situação em que o paciente precise procurar o atendimento médico de urgência.
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – Sim, existem alguns tipos AVCs que se manifestam com vertigem e o paciente deve se preocupar se for o primeiro episódio de vertigem e durar continuamente por mais de 30 minutos.
O HRMS oferece o serviço de diagnóstico e tratamento de tontura e vertigem, como o paciente pode conseguir?
Drª. Aline M. Kozoroski Kanashiro – O Serviço de Neurologia do HRMS tem disponível à população o Ambulatório de Vertigem, cujo nome específico é: Ambulatório de Distúrbios Vestibulares e do Equilíbrio. Este ambulatório é dedicado ao atendimento de pacientes com vertigem. No Brasil há somente dois ambulatórios de neurologia especializados no atendimento destes pacientes do SUS, sendo o primeiro no Hospital das Clínicas da FMUSP em São Paulo, coordenado pela Dra. Cristiana Borges Pereira, onde eu fiz o meu treinamento.
Os pacientes podem ser encaminhados por todos os médicos do SUS, explicando o encaminhamento direcionado para este ambulatório, com um dos CIDs referente às doenças vestibulares e via SISREG.
Eu sinto muita tristeza em saber que tantas pessoas sofrem de tontura ou vertigem e muitas vezes não chegam ao diagnóstico e tratamento corretos. Esses sintomas são incapacitantes e comprometem a qualidade de vida. Nós precisamos de ajuda para divulgar a informação e fazer com que os pacientes com vertigem cheguem até o nosso ambulatório.
Joilson Francelino, HRMS