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  • maio 2, 2017

O poeta de Sobral

 Grande Belchior!! A verdadeira MPB (Música Popular Brasileira) está de luto. Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes está morto. Tive o prazer e o privilégio de entrevistar o cantor e compositor de Sobral, no Ceará, em 1979. Ele estreava o seu show no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, no Rio de Janeiro. Ao seu lado, no camarim, depois do show – que ele fez questão que eu assistisse do início ao fim – uma loura exuberante. Se não me engano, era a sua mulher. Eu, garoto com 19 anos, não sabia se prestava atenção no Belchior, ou na beleza daquela loura. Coisas da juventude! Ele me recebeu como se eu fosse da rádio Cidade, 102,9MHz, do Grupo Jornal do Brasil, ou da Rede Globo de Televisão. Nada disso. Na minha carteirinha de “Imprensa” constava “Rádio Clube de Corumbá”. Perguntei a ele como era a pronúncia correta do seu sobrenome. Ele disse “Belchiôr”, com acento circunflexo na última sílaba. Até hoje, muitos colegas falam “Belchiór”. Papo maravilhoso. Conversamos muito sobre o seu trabalho realizado até aquele ano de 1979 [ Compacto “Na hora do almoço”, de 1971 ; “Sorry, baby”, de 1973; “Mote e glosa”, de 1974; “Alucinação”, 1976; “Coração selvagem”, de 1977; e “Todos os sentidos”, de 1978]. Um papo tranquilo, que fluía tão bem quanto as letras que escrevia, verdadeiros poemas. Fugi, muitas vezes, da pauta que havia preparado. Em uma época em que não havia Internet, eu me debruçava em cima do “Caderno B”, do “Jornal do Brasil”, e do “Segundo Caderno”, do “Globo”. Nessas fontes eu pesquisava tudo sobre o artista que iria entrevistar. As músicas do Belchior marcaram a minha juventude, em 1975, quando produzi o meu primeiro programa de Rádio, o “Sábado Som Pop” [ http://aanache.blogspot.com.br/2005/07/sbado-som-pop-e-revoluo-no-rdio-h-30.html?m=1 ], na Clube de Corumbá. Em 1976 e 1977, passando as férias em Corumbá, levei os LP’s do Belchior. Quando ouvi “Apenas um rapaz latino-americano”, disse de pronto : “Essa é a grande música, o sucesso que marcará este disco”. Daqueles velhos e bons tempos, nos anos 1970, e até hoje, em 2017, sempre programei as músicas do Belchior nas rádios Clube de Corumbá – até junho de 2000 – e Independente de Aquidauana. No entanto, fico impressionado com alguns meios de comunicação de massa, principalmente Rádio e Televisão, que simplesmente se esqueceram do excepcional cantor e compositor de Sobral, no Ceará, onde nasceu em 26 de outubro de 1946. Agora, depois da sua morte, em 30 de abril de 2017, aos 70 anos e morando “de favor” em uma casa de um amigo, no Rio Grande do Sul, todos querem prestar homenagens ao Belchior. Por que não fizeram isso quando ele era vivo? Por que não estenderam suas poderosas mãos a ele, quando ainda respirava? Por que não programavam suas músicas? Quais os motivos que o levaram à “geladeira”, não sendo mais convidado para participações em programas de Rádio e televisão? Pobre Brasil, que abandona os seus melhores e mais destacados filhos. Está na Bíblia : “Jesus lhes disse:” Só em sua própria terra, entre seus parentes e em sua própria casa, é que um profeta não tem honra”.
(Marcos 6:4). Se o seu sumiço era voluntário, ao lado da sua mulher, será que não seria possível resgatá-lo de volta ao mundo tido como “normal”? Ele não era um verdadeiro diamante da MPB e, por isso, não merecia um tratamento diferenciado, mesmo se fosse contra a sua vontade? São apenas perguntas que faço, talvez agindo mais como um fã dele e da sua obra, do que como repórter. O Brasil precisa, e muito, tratar melhor os seus verdadeiros e valiosos artistas e heróis. Mas, por favor, vamos fazer isso enquanto eles estiverem vivos, podendo sorrir de satisfação com o reconhecimento dos seus trabalhos. Descanse em paz, grande poeta sobralense e cearense. Viva Belchior!

(*) Jornalista e radialista

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