- março 17, 2023
Novo sistema de cultivo de erva-mate pode produzir até dez vezes mais que o tradicional
O Cevad-estufa é voltado para a colheita de folhas jovens e não das maduras, tradicionalmente utilizadas na produção de chimarrão
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Um novo sistema de cultivo de erva-mate, desenvolvido pela Embrapa Florestas (PR), permite até dez colheitas em 18 meses, ou seja, nove a mais do que o tradicionalmente utilizado na cultura, que é de apenas uma no mesmo período. Denominado Cevad-estufa, apresenta também potencial para o desenvolvimento de novos produtos, principalmente diferentes tipos de chás a partir de folhas jovens das plantas, cultivadas em canaletas dentro de estufas, como pequenos arbustos.
O sistema ainda vai passar por validação junto a produtores rurais, mas os resultados são promissores e podem contribuir para elevar a erva-mate a um patamar superior no mercado de chás e outros produtos de maior valor agregado, além de ampliar a sua comercialização no Brasil e no mundo.
Segundo o pesquisador Ivar Wendling, o Cevad-estufa é voltado para a colheita de folhas jovens e não das maduras, tradicionalmente utilizadas na produção de chimarrão, por exemplo. Assim como já se produz o chá-preto, chá-verde e chá branco a partir da Camellia sinensis, que utiliza folhas e processos distintos, será possível fazer isso também com as folhas da erva-mate (Ilex paraguariensis) e gerar chás com sabores diferenciados e maiores concentrações de cafeína e antioxidantes. Tudo isso ainda poderá ser potencializado com o uso de cultivares melhoradas de erva-mate, previstas para serem lançadas em até três anos pela Embrapa Florestas.
Alta produtividade e velocidade de produçãoNo Cevad-estufa, as erveiras são alocadas em estufa, dispostas em linhas, em canteiros suspensos contendo areia devidamente preparada para este fim. O espaçamento entre elas é de 15 cm x 15 cm, e as plantas atingem de 15 cm a 30 cm de altura. A cada 30 a 90 dias, novas brotações surgem, podendo ser colhidas para a elaboração de chás ou para a extração de compostos como a cafeína e antioxidantes, por exemplo, que se encontram em maior concentração nas folhas jovens. O novo sistema permite que sejam alocadas mais de 300 mil plantas de erva-mate em um hectare, enquanto no sistema de produção em campo, são instaladas 2.200 plantas por hectare. “A cada 60 dias, em média, é possível coletar novas brotações e folhas. Resultados mostraram que é possível produzir em um ano até 90 toneladas de biomassa por hectare no novo sistema, enquanto a média da produtividade brasileira de erva-mate é de 7,5 toneladas por ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)”, afirma o pesquisador. “Não são formas de plantio que competem entre si. Cada uma tem um objetivo e formas diferenciadas de condução”, ressalta Wendling.
Foto: Manoela Mendes Duarte |
Custos de Implantação
A adoção do Cevad-estufa, que difere totalmente do cultivo a campo, demandará maiores custos para a implantação, já que envolve investimentos com as instalações da estufa, canaletões, aquisição de grande quantidade de mudas, assistência técnica e mão de obra especializada para o manejo, além de fertilizantes para uma solução nutritiva adequada. “Apesar do custo inicial, o sistema tem um grande potencial de produtividade, além da geração de matéria-prima diferenciada. Com essas vantagens, prevê-se que o investimento da implantação se pague com o tempo e gere um bom retorno econômico”, diz o pesquisador. “Além disso, apresenta um maior potencial de automação”, acrescenta.
Avaliação da produtividade e composição química mediante sombreamentoEntre as pesquisas que embasaram a viabilidade do cultivo Cevad-estufa estão uma dissertação de mestrado da aluna Natália Aguiar e duas teses de doutorado dos alunos Jéssica Tomasi e Leandro Marcolino Vieira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), realizadas na Embrapa Florestas. Segundo Aguiar, a proposta do estudo foi usar esse sistema de produção de biomassa de erva-mate para fins industriais e avaliar a influência do sombreamento e do clone na produção de folhas maduras e jovens em sucessivas colheitas, bem como na sua composição química. “Os resultados apontaram que o sistema é tecnicamente viável para o cultivo de erva-mate, com alta produtividade de biomassa quando comparado a sistemas tradicionais em campo, com destaque para a grande produção de folhas jovens”, complementa. A mestranda avaliou dois genótipos de erva-mate (um de alta e outro de baixa cafeína), que estão sendo desenvolvidos pela Embrapa Florestas, submetidos a cinco níveis de sombreamento (0% – sem sombreamento, 40%, 51%, 76% e 82%) em estufa, ao longo de um ano. “Este estudo com clones de erva-mate esclareceu questões relacionadas aos efeitos do sombreamento na produção de biomassa e compostos bioativos. A sombra em qualquer nível reduziu a produtividade da erva-mate, e não recomendamos sombreamento acima de 76% no cultivo da espécie neste sistema, já que reduziu em mais de três vezes a produção de biomassa”, diz. Ela acrescenta que “o sombreamento também teve influência nos teores dos compostos analisados, como maior teor de cafeína nos maiores níveis de sombreamento. Entretanto, a baixa produção de folhas nessas condições não compensa a adoção do sombreamento. A diferença entre clones também pôde ser observada na produtividade de massa foliar e nos compostos bioativos, indicando a importância da seleção de materiais genéticos para cada finalidade industrial”, afirma Aguiar. Foto: Manuela Bergamin |
Produção do sistema e caracterização química
O estudo de doutorado da aluna Jéssica Tomasi avaliou a produção de biomassa ao longo de um ano e a composição de bioativos, utilizando diferentes clones e doses de nitrogênio na solução nutritiva. Os resultados de produtividade demonstraram haver pouca oscilação ao longo das seis colheitas no ano, confirmando o potencial do sistema em termos de produção contínua e a variação entre genótipos. Também, segundo Tomasi, concluiu-se haver influência da sazonalidade no teor dos compostos bioativos, como a cafeína e diferentes tipos de antioxidantes.
Outro estudo sobre o Cevad-estufa, conduzido por Leandro Vieira, analisou aspectos relacionados ao enraizamento de miniestacas e à produção de massa verde de erva-mate. Foi avaliada também a composição química de 15 clones quanto aos teores de cafeína, teobromina, compostos fenólicos, açúcares e proteínas totais. Constatou-se que, de modo geral, genótipos de erva-mate apresentam características específicas quanto à composição química, produtividade, potencial de propagação, necessidade de utilização de reguladores vegetais, sazonalidade, intervalo entre colheitas, entre outros aspectos, o que demonstra a viabilidade das cultivares que estão em estudo no atendimento a nichos de mercado para produtos específicos.
“A produção de massa verde no novo sistema se mostrou diferenciada e com resultados inéditos, e que poderá vir a ser um sistema de cultivo visando à produção de matéria-prima para a indústria da erva-mate”, afirma Vieira. Além disso, dois genótipos se destacaram por conter altos teores de compostos fenólicos totais, proteínas, cafeína e alta atividade antioxidante. Outro genótipo apresentou alta produtividade de massa verde em cultivo Cevad-estufa, possibilitando a produtividade de 96 toneladas por hectare ao ano, segundo o estudo.
“Genótipos altamente produtivos e com características químicas diferenciadas podem resultar em produtos de grande interesse para a indústria da erva-mate. Assim, o conhecimento das características de cada genótipo quanto à exigência nutricional, forma de cultivo, poda, propagação, entre outros fatores, têm potencial para aumentar a eficiência na multiplicação e cultivo da erva-mate”, frisa Vieira.
Foto acima: Natália Saudade de Aguiar
Cevad-estufa pode resultar em cápsulas de antioxidantes, inéditas no mercado
Estudos apontaram a existência de cerca de 200 compostos químicos em folhas da erva-mate, muitos potencialmente bioativos. Com esse novo sistema de produção, além de chás especiais, é possível extrair compostos para produção de cosméticos, suplementos alimentares e produtos farmacêuticos para distintos fins.
Uma das opções são cápsulas ou sachês com pó de extrato de erva-mate, que apresentam importante efeito antioxidante. Outro produto de interesse são os estimulantes, devido à alta qualidade e concentração de cafeína nas folhas jovens de erva-mate, em materiais genéticos melhorados. “Até onde sabemos, ainda não estão disponíveis no mercado cápsulas diferenciadas e nem é realizada a extração de cafeína e antioxidantes de erva-mate em escala comercial, o que torna esses estudos muito promissores”, enfatiza Wendling.
Busca por parceriasO próximo passo é validar o sistema junto a produtores rurais. Além disso, a ideia é também encontrar indústrias interessadas nesse tipo de matéria-prima para desenvolvimento de produtos, uma vez que a erva-mate conta com um forte apelo como matéria-prima natural e sustentável. Produtores e indústrias interessados em testar o Cevad-estufa e desenvolver produtos a partir do novo sistema podem entrar em contato com a Embrapa Florestas pelo e-mail: cnpf.spat@embrapa.br. |
Manuela Bergamim (MTb 1.951/ES)
Embrapa Florestas
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