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  • abril 25, 2023

Novo sistema de cultivo de erva-mate pode aumentar a produtividade em até 160% nos primeiros anos

Novo sistema de cultivo de erva-mate pode aumentar a produtividade em até 160% nos primeiros anos

Estudo de viabilidade econômica mostrou que o retorno financeiro anual estimado foi de até oito vezes o obtido pelo sistema convencional

  • Novo sistema é resultado de estudo, que testou o cultivo de erva-mate em condições de superadensamento com mais de 25 mil plantas por hectare.
  • O Cevad Campo usa também o dobro de nitrogênio no cultivo, o que proporciona incremento de 86% na produtividade total de folhas.
  • Um estudo de viabilidade econômica mostrou que, apesar do investimento inicial ser alto, o retorno financeiro anual estimado foi de até oito vezes o obtido pelo sistema convencional.
  • O sistema possui elevado potencial de mecanização das colheitas, com custo cerca de um terço inferior ao convencional.
  • A redução no tempo entre as colheitas aumenta a proporção de ramos e folhas jovens, que apresentam maiores teores de compostos bioquímicos, abrindo novos mercados para a cultura.
  • Apesar de sua importância econômica, ecológica e social, o cultivo de erva-mate ainda carece de informações importantes e alternativas aos sistemas convencionais de produção de biomassa.
  • Os resultados desse estudo colaboram com o desenvolvimento de um novo sistema de cultivo de erva-mate, com alta densidade de plantio e adequada fertilização com nitrogênio.

 

Um novo sistema de cultivo de erva-mate, denominado Cevad Campo, é capaz de aumentar em até 160% a produtividade em apenas quatro anos após o plantio, em condições de superadensamento formado por mais de 25 mil plantas por hectare. Tradicionalmente, a espécie é cultivada em áreas naturais, em sistemas agroflorestais ou em monocultivos com espaçamentos de plantio em baixa densidade (que variam de 1,9 mil a 2,8 mil plantas por hectare). Outro diferencial do Cevad Campo é que utiliza maior quantidade de nitrogênio no plantio, proporcionando incremento de 86% na produtividade total de folhas e grande quantidade de ramos e folhas jovens, o que impacta no aumento de biomassa e abre novos mercados para a cultura.

O novo sistema é resultado da tese de doutorado defendida pela aluna Mônica Gabira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob orientação do pesquisador Ivar Wendling, da Embrapa Florestas (PR). Segundo o também pesquisador da Unidade José Mauro Moreira, a avaliação econômica realizada sobre o Cevad Campo mostrou que, inicialmente, a implantação exige um investimento maior devido ao grande número de mudas necessárias, mas, após quatro anos, começa a gerar fluxo positivo de caixa e, após oito anos, retorna o capital investido na cultura, além de apresentar um potencial de ganho líquido anual de até oito vezes o retorno do sistema convencional.

O experimento de campo foi implantado em 2018, em General Carneiro, PR, onde foram avaliadas três densidades de plantio: com 9.090, 13.333 e 25 mil plantas por hectare – e cinco doses de adubo – 0%, 50%, 100%, 200% e 300% da dose recomendada de nitrogênio. Os dados foram avaliados em cinco colheitas subsequentes realizadas de maio de 2019 a maio de 2021, com períodos de rotação reduzidos.

Foto: Kátia Pichelli

 

O Cevad Campo é uma tecnologia que já está pronta para ser utilizada pelos produtores rurais. Novas pesquisas, em parceria com a UFPR, continuam sendo realizadas para aprimorar o sistema. “Os estudos têm o intuito de melhorar o sistema e avaliá-lo a longo prazo, voltados para o manejo nutricional e ao cultivo, este com foco no adensamento entre as plantas”, explica Wendling.

 

Ciclos curtos de colheita, mais folhas novas e mecanização

Além da alta produtividade, o superadensamento do Cevad Campo reduziu significativamente o tempo entre as colheitas, que no método tradicional é de 18 a 24 meses. No novo sistema, a colheita pode ser feita a cada 3 a 5 meses, o que significa uma diminuição média de 80% do tempo de rotação. Segundo os pesquisadores, a redução no tempo entre as colheitas possibilita aumentar a proporção de folhas novas. Por ser mais adensado e com plantas de menor porte, o sistema possui elevado potencial de mecanização das colheitas, otimizando o uso da mão de obra, cada vez mais escassa no meio rural.

Adubação ajustada

Além de avaliar os efeitos trazidos com o superadensamento de plantio, o estudo avaliou o resultado de cinco doses de nitrogênio e seu impacto na produtividade (produção de biomassa–folhas e galhos finos) e nos compostos bioquímicos das folhas de erva-mate. Quanto à produção de biomassa, os melhores resultados foram obtidos com a aplicação do dobro da dose de nitrogênio normalmente utilizada, o que proporcionou incremento de 86% na produtividade total de folhas, comparado ao plantio com a aplicação da dose convencional da substância. “O nitrogênio é um nutriente fundamental para o crescimento das plantas; portanto sua disponibilidade em quantidades adequadas durante o ciclo de produção possibilita maior produtividade da erva-mate. No entanto, é importante que não haja excessos, pois o fertilizante pode causar toxidez às plantas e contaminação do solo e de recursos hídricos, além do alto custo ao produtor”, explica a autora da tese.

Outro foco do trabalho foi avaliar a influência das densidades de plantio e das doses de nitrogênio nos teores de metilxantinas (cafeína e teobromina) e compostos fenólicos em plantas de erva-mate. “Nós observamos que o adensamento do plantio e as doses de nitrogênio não alteraram os teores de compostos bioquímicos nas plantas. No entanto, por possibilitar colheitas mais frequentes, nesse sistema nós temos maiores proporções de folhas jovens nas colheitas, e essas folhas apresentam maiores teores de compostos bioquímicos, o que é muito interessante para indústrias que buscam compostos específicos que são encontrados na erva-mate”, afirma Gabira.

 

Erva-mate faz bem à saúde

Vários compostos presentes na erva-mate, como cafeína, teobromina e compostos fenólicos, promovem benefícios à saúde humana. Além de suas propriedades estimulantes, outros benefícios à saúde relacionados às metilxantinas e compostos fenólicos têm sido relatados para a erva-mate, como atividade antioxidante, diurética, redutora de colesterol e hepatoprotetora.

 

Novos mercados

“As folhas mais tenras apresentam maiores teores de compostos bioquímicos, interessantes para várias indústrias alimentícias e de cosméticos. Esses resultados podem contribuir para atender a diversos mercados, com o desenvolvimento de novos produtos como chás, bebidas, extratos e outros alimentos com erva-mate”, explica Wendling. Os produtores terão mais uma alternativa para o cultivo de erva-mate, já que poderão aproveitar melhor pequenas áreas, focando no cultivo de maior precisão, que resultará em um produto com maior valor agregado. “E a indústria também será beneficiada, pois terá em mãos uma matéria-prima de alta qualidade, que possibilitará maior eficiência dos processos de extração de compostos de interesse”, acrescenta Gabira.

“Há uma demanda crescente por folhas de erva-mate com maior qualidade que podem, adicionalmente, ser obtidas por meio de programas de melhoramento associados a características silviculturais diferenciadas, por exemplo”, afirma Wendling. “Os resultados divulgados demonstram o potencial da erva-mate para o manejo em povoamentos de alta densidade, com períodos de rotação reduzidos e manejo adequado de nutrientes para a produção de altos volumes de biomassa. Essas informações são importantes para plantios com essa finalidade”, complementa o pesquisador.

Resultados promissores

A erva-mate é uma espécie arbórea nativa da América do Sul; suas folhas e galhos finos são cada vez mais consumidos por diferentes formas de infusão (em água quente ou fria) e em outros produtos, devido aos efeitos benéficos à saúde. Sua composição bioquímica tem cada vez mais despertado a atenção das indústrias alimentícias, que utilizam seus compostos como matéria-prima para produção de energéticos, por exemplo.

Apesar de sua importância econômica, ecológica e social, a silvicultura da erva-mate ainda carece de informações importantes e alternativas aos sistemas convencionais de produção de biomassa. “Os resultados desse estudo vêm colaborar com o desenvolvimento de um novo sistema de cultivo de erva-mate, com alta densidade de plantio, adequada fertilização, e obtenção de um produto diferenciado”, reforça Wendling.

 

Foto: Natália Saudade

Novos usos

Parte significativa dos produtores de erva-mate realiza o cultivo convencional da espécie, sendo ainda resistentes à aplicação de características silviculturais diferenciadas que visam à melhoria da produtividade e qualidade dos produtos obtidos.

Por isso, os plantios de erva-mate ainda carecem de manejo quanto à produção de matéria-prima de alto valor para outras indústrias, além das bebidas tradicionais, segundo apontam os pesquisadores.

Assista ao teaser sobre o sistema:

 

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