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  • abril 17, 2018

Dona Ivone Lara morre no Rio

Sambista morreu na noite desta segunda-feira (16), depois de três dias internada. Corpo será velado na quadra do Império Serrano. Enterro está marcado para as 16h30 em Inhaúma.

A cantora Dona Ivone Lara morreu na noite desta segunda-feira (16), no Rio de Janeiro, por conta de um quadro de insuficiência cardiorrespiratória. Ela estava internada desde sexta-feira (13), data em que completou 96 anos, no Centro de Tratamento e Terapia Intensiva (CTI) da Coordenação de Emergência Regional (CER), no Leblon, na Zona Sul da cidade.

Dona Ivone Lara já vinha apresentando um quadro de anemia e precisou receber doações de sangue. O estado de saúde dela já era considerado bastante grave.

No hospital, a família comentou a morte da sambista.

“Ela estava sempre procurando um caderninho pra escrever uma música, estava sempre cantarolando pro neto. Até a última semana ela estava superbem, com a cabeça ótima. Ela estava muito fraquinha, mas a cabeça estava ótima”, contou a nora Eliana Lara Martins da Costa.

O filho Alfredo Lara da Costa destacou a mulher forte e guerreira que ela foi, sempre pensando em música. “Vai deixar muita saudade, mas sinto muito orgulho do legado que ela deixa”, disse.

O corpo de Dona Ivone Lara será velado nesta terça (17) na quadra da escola de samba Império Serrano, em Madureira, na Zona Norte do Rio. O enterro está marcado para as 16h30 no Cemitério de Inhaúma.

Segundo o colunista Mauro Ferreira, Dona Ivone Lara morreu aos 96 anos e não aos 97 anos, como informam quase todas as fontes, pois nasceu em 1922, não em 1921. A data de 1921 foi forjada pela mãe da artista em 1932 para que ela pudesse ser admitida em colégio interno, cuja idade mínima para o ingresso era 11 anos.

O ano de 1921 passou a constar até nos documentos de Ivone, mas ela nasceu de fato em 13 de abril de 1922. Essa questão já foi esclarecida na biografia de Ivone.

Conhecida como a “Grande Dama do Samba”, ela nasceu em família de amantes da música popular e enfrentou o preconceito por ser mulher e sambista. Seu maior sucesso é “Sonho meu”, música que estourou nas paradas de sucesso com Maria Bethânia e Gal Costa.

A vida de Dona Ivone Lara

Dona Ivone Lara nasceu na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo, Zona Sul do Rio. Foi a primeira filha da união entre a costureira Emerentina Bento da Silva e José da Silva Lara. Paralelamente ao trabalho, ambos tinham intensa vida musical: ele era violonista de sete cordas e desfilava no Bloco dos Africanos; ela era ótima cantora e emprestava sua voz de soprano a ranchos carnavalescos tradicionais do Rio, como o Flor do Abacate e o Ameno Resedá — nos quais Seu José também se apresentava.

Formada em Enfermagem e Serviço Social, com especialização em Terapia Ocupacional, Ivone Lara foi uma profissional na área até se aposentar em 1977.

Com a morte do pai quando Ivone tinha 3 anos, e da mãe, aos 12, ela foi criada pelos tios e com eles aprendeu a tocar cavaquinho e a ouvir samba, ao lado do primo Mestre Fuleiro; teve aulas de canto com Lucília Villa-Lobos e recebeu elogios do marido dela, o maestro Heitor Villa-Lobos.

Casou-se aos 25 anos com Oscar Costa, filho de Afredo Costa, presidente da escola de samba Prazer da Serrinha, com quem teve dois filhos, Alfredo e Odir. Foi no Prazer da Serrinha onde conheceu alguns compositores que viriam a ser seus parceiros em algumas composições, como Mano Décio da Viola e Silas de Oliveira.

Entre outros sucessos, a sambista também compôs o samba “Nasci para sofrer”, que se tornou o hino da escola.

Império Serrano

Com a fundação do Império Serrano, em 1947, passou a desfilar na ala das baianas. Dona Ivone Lara também compôs o samba “Não me perguntes”, mas a consagração veio em 1965, com “Os cinco bailes da história do Rio”, quando tornou-se a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores de escola de samba.

Em 1975, depois de seu filho Odir sofrer um acidente de carro, seu marido Oscar teve um enfarte e morreu.

Aposentada em 1977, passou a dedicar-se exclusivamente à carreira artística. Entre os intérpretes que gravaram suas composições destacam-se Clara Nunes, Roberto Ribeiro, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paula Toller, Paulinho da Viola, Beth Carvalho, Mariene de Castro, Roberta Sá, Marisa Monte e Dorina.

‘Dona’

Não basta chamá-la apenas de Ivone Lara: o respeito e a admiração que impôs à MPB a transformaram em Dona Ivone Lara.

A sambista também teve trabalhos como atriz, fazendo filmes, e foi a Tia Nastácia em especiais do “Sítio do Picapau Amarelo”.

Em 2008, Dona Ivone interpretou a canção “Mas quem disse que eu te esqueço” no projeto Samba Social Clube. A faixa foi incluída, no ano seguinte, numa coletânea com as melhores performances do projeto.

Em 2008, ela perde o filho Odir, vítima de complicações decorrentes da diabetes.

Homenagens

No ano de 2012, foi homenageada pelo Império Serrano, no Grupo de Acesso, com o desfile “Dona Ivone Lara: o enredo do meu samba”.

Em 2010, foi a homenageada na 21ª edição do Prêmio da Música Brasileira. Em 2014, foi tema da 19ª edição do Trem do Samba, em dezembro de 2014. Um mês antes, Dona Ivone participou do primeiro dia de gravações do “Sambabook” em celebração à sua carreira da gravadora Musickeria.

Cantores como Maria Bethânia, Elba Ramalho, Criolo, Zeca Pagodinho, Martinho da Vila, Arlindo Cruz, Adriana Calcanhoto e Zélia Duncan fizeram versões de suas canções, enquanto a própria gravou com Diogo Nogueira uma canção inédita, composta com seu neto André.

Em 2015, entrou para a lista 10 Grandes Mulheres que Marcaram a História do Rio.

Dona Ivone Lara foi a maior compositora do samba e da música brasileira. Nenhuma outra mulher teve tantas vozes cantando suas músicas ou gravadas como ela.

Alguns sucessos

  • “Alguém me avisou”

  • “Acreditar”

  • “Tendência”

  • “Mas quem disse que eu te esqueço”

  • “Samba”

  • “Minha raiz”

  • “Sorriso de criança”

  • “Sorriso negro”

  • “Sonho meu”

  • “Minha verdade”

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