- abril 19, 2018
Ao Exército, com orgulho
No dia 15 de fevereiro de 1630, o Nordeste brasileiro começava a viver o pesadelo da invasão dos holandeses, pertencentes à Companhia das Índias Ocidentais. Após 15 anos de bravo enfrentamento, lutando contra forças superiores, em 23 de maio de 1645, 18 líderes da Insurreição Pernambucana assinaram um termo, no qual se destaca o uso, pela primeira vez no Brasil, da palavra “pátria”, no seu sentido atual.
No documento, verdadeiro “Compromisso Imortal”, há, também, providências que, hoje, seriam consideradas mobilização de Reservas:
“Nós abaixo assinados nos conjuramos e prometemos em serviço da liberdade, não faltar a todo o tempo que for necessário, com toda ajuda de fazendas e de pessoas, contra qualquer inimigo, em restauração da nossa pátria; para o que nos obrigamos a manter todo o segredo que nisto convém (…)”.
Estava criado, segundo o mestre Capistrano de Abreu, o sentimento da existência nacional brasileira, que iria se fortalecer ao longo dos próximos dois séculos, até a Independência, em 1822.
Paralelamente, surgia, consolidado, o Exército de Patriotas, formado pela fusão das três etnias – branca, negra e índia – com suas miscigenações. Nascia o Exército Brasileiro, democracia multirracial, sem discriminações e preconceitos, sem cotas, numa pluralidade étnica e social, unida pela alma de combatente do nosso soldado.
Em 19 de abril de 1648, uma força holandesa, com 7.400 homens, marchou no sentido Barreta-Guararapes, tendo como objetivo final apoderar-se do cabo de Santo Agostinho. O Exército Patriota, de 2.200 homens, deslocou-se para interceptar o invasor. O Sargento-Mor Antônio Dias Cardoso, “soldado mais prático e experiente”, sugeriu que o melhor campo de batalha seria o Boqueirão dos Guararapes.
Na manhã de 19 de abril, primeiro domingo após a Páscoa (“pascoela”), dia de Nossa Senhora dos Prazeres, o Sargento Dias Cardoso, no comando de 200 homens, investiu contra a vanguarda inimiga para, em seguida, retrair em direção ao interior do Boqueirão, onde o restante do nosso Exército estava escondido, pronto para a batalha. Ao comando de “ás de espadas”, os patriotas lançaram-se sobre o inimigo.
O terço (regimento) de Pernambuco, comandado por João Fernandes Vieira, auxiliado por Dias Cardoso, rompeu o inimigo nos alagados. Os índios de Felipe Camarão assaltaram a ala direita dos holandeses. O terço dos negros de Henrique Dias atacou a ala esquerda, ficando as tropas de Vidal de Negreiros em reserva. Os batavos contra-atacaram com suas reservas de 1.200 homens, enquadrando o terço de Henrique Dias.
Os patriotas, habilmente, lançaram a reserva de Vidal de Negreiros no momento adequado. Foram quatro horas de confronto, entre alagados e morros. Ao final, o exército holandês, derrotado, retirou-se com pesadas perdas: 1.038 combatentes, entre mortos e feridos.
Menos de um ano depois, em 19 de fevereiro de 1649, patriotas e holandeses enfrentaram-se na segunda e derradeira Batalha dos Guararapes. Novamente derrotados, os batavos fugiram para Recife, ainda sob o controle holandês, deixando para trás 927 mortos, 89 feridos e 428 prisioneiros, contra 45 patriotas mortos e 245 aprisionados.
Em 14 de janeiro de 1654, o Exército Patriota atacou o último reduto holandês em Recife. Após dez dias de combates, a cidade foi reconquistada. No dia 26 de janeiro, na Campina da Taborda, os holandeses assinaram a rendição e retiraram todas as suas forças no Brasil.
O Decreto do Presidente da República, de 24 de março de 1994, instituiu o Dia do Exército Brasileiro em 19 de abril, data da primeira Batalha dos Guararapes (1648), quando se uniram, no nascedouro, os conceitos de Pátria e de Exército.
Decorridos 370 anos do sacrifício daqueles bravos que, ao expulsarem o invasor holandês, deram origem ao Exército Brasileiro (instituição detentora dos maiores índices de confiabilidade do nosso povo), paira sobre a data um injustificável silêncio. São tempos estranhos, em que as comemorações ficam restritas, praticamente, ao meio militar. A quase totalidade da mídia ignora o acontecimento e os meios educacionais e culturais se omitem, contaminados pela nefasta doutrina do “politicamente correto”.
A história do Exército Brasileiro confunde-se com a da Pátria. Os Soldados de Caxias – povo brasileiro em armas – participaram, intensa e decisivamente, dos acontecimentos mais relevantes de nossa jornada como Nação. O Exército atual é a mesma Pátria em armas do passado. Os soldados de hoje em nada diferem dos militares de ontem, eis que seus princípios, valores e atributos são imutáveis.
O espírito do Pacificador gera não só tolerância, paciência, grandeza, compreensão e capacidade de perdoar, mas também, firmeza, decisão, energia, coragem, retidão de propósitos, nobreza de ideais, culto à verdade e um inquestionável amor ao Brasil.
Ainda hoje, quando vivenciamos um cenário em que maus brasileiros promovem a degradação dos princípios e valores que forjaram a nacionalidade, os herdeiros de Caxias, de Tamandaré e de Eduardo Gomes são a grande reserva moral e ética que leva milhões de brasileiros às ruas e redes sociais, clamando por seu vigoroso Braço Forte e fraterna Mão Amiga. Os soldados brasileiros de terra, mar e ar são exemplos de cidadãos, e a Nação neles reafirma a sua irrefutável confiança.
Soldado do Brasil! … Presente!
*O autor é professor, oficial da reserva do Exército, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e da Academia Brasileira de Defesa, presidente do Conselho Deliberativo da Associação Nacional dos Veteranos da FEB e fundador do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva do Exército – CNOR. O artigo não representa, necessariamente, o pensamento das entidades mencionadas.
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